O projeto Janelas Rebeldes é uma leitura sonora do impacto do coronavírus na cultura
urbana, do ponto de vista da cidade de São Paulo (SP, Brasil). A fim de estudar a
potência do som como marcador social e indicador político e ideológico, iniciamos um
processo de captação coletiva e distribuída em 10 diferentes pontos da cidade.
Os áudios são registrados três vezes ao dias e também nos momentos de protesto que são
feitos a partir das janelas.
O conjunto dessa documentação sonora alimentará uma instalação e/ou uma plataforma
on-line que visa dar visualidade e geografia às informações coletadas. A heterogeneidade
social da cidade de São Paulo e as particularidades "negacionistas" da presidência de
Jair Bolsonaro
sobre a realidade da pandemia, impuseram às inéditas condições de isolamento social,
características que se tornavam visíveis na nova paisagem sonora da cidade.
Nos bairros centrais, os ruídos da infraestrutura urbana foram substituídos pelo canto
de pássaros.
Contudo, a 30 km dali, na periferia, a música, os encontros na rua, a impossibilidade do
teletrabalho e a proximidade com as diretrizes do bolsonarismo expressaram que o som da
cidade revela não apenas marcadores sociais, mas no caso brasileiro, indicadores
políticos e ideológicos. Momento revelador são os protestos nas janelas, às 20h30,
quando, na impossibilidade de ir às ruas, os habitantes recorrem às panelas para
protestar.
Nos fins de semana, são comuns as carreatas dos apoiadores do governo, que se manifestam
de dentro de seus automóveis. A resposta das janelas é frequente e reveladora de nossas
contradições,indicando que o mapeamento sonoro pode funcionar como um metodologia para
pensar o urbanismo a partir do Sul Global.
Escute aqui os áudios:
Aline Alves Nakamura
Ana Paula Alves Leal
Bruno Seravali Moreschi
Giselle Beiguelman
Helena Cavalheiro
Iago Vieira Santos
Icaro de Abreu
Laura Salerno
Livia Debbane
Luciana Moherdaui
Marcos Assis Piffer
Maria Claudia Levy
Matheus da Rocha Montanari
Paula Monroy
Sandra Kafka
Vinicius Santos Almeida
Artistas gravam sons das cidades que ficaram desertas por causa do coronavírus. Folha de São Paulo, 11 de abril de 2020.
Com Emicida, podcast discute o silêncio e o ruído na quarentena, Podcast Expresso Ilustrada, 16 de abril de 2020
Jornal da TV Cultura, 22 de abril de 2020
Como são os sons da cidade na quarentena?. Jornal da USP, 27 de abril de 2020
Mais do que apenas um norte com relação à inovação. É destino certo, sem escalas e de primeira classe
Já dizia Albert Einstein, uma vez que sua mente se expande, ela nunca mais retorna
ao seu
estado anterior. Funciona com sabores, cheiros, sons, com todo tipo de experiência e
conhecimento.
É nessa supernova sensorial que se encontra o SXSW. Um lugar no qual um só cano
multiverso
te leva a um show da Joan Jett, um sushi impresso 3D e um livro psicodélico.
Ao apostar nesta roleta de painéis, palestras e shows, o resultado é sempre sorte,
pois
aquilo com o que você nunca se conectaria, de repente, te pega de surpresa e te
deixa
refletindo pelos próximos dias.
Nesta Disneylândia de palestras onde você troca de canal com o seu corpo, aquele
documentário que você não assistiria na TV, lá acontece ao vivo e é transformador.
Mais do
que apenas um norte com relação à inovação. É destino certo, sem escalas e de
primeira
classe.
Me refiro à inovação na forma mais ampla do termo, como intersecção de
empreendedorismo e
criatividade e um bom roteiro chamado metodologia pra colocar de pé.
Para facilitar a compreensão, dividi o festival basicamente em três grandes temas:
Já é,
Quase lá e Será?.
O “Já é”, já era. Não tem volta. Se consolidou e não vamos mais conseguir viver sem.
Em
geral, tem a ver com temas apresentados nos SXSW de cinco anos atrás. Dentre os
macro-temas,
temos a inteligência artificial dando maior capacidades aos humanos e mobilidade com
o
propósito de levar coisas e pessoas do ponto A ao ponto B em segurança. Assim como
em
algumas cidades brasileiras, Austin fora tomada por patinetes, bicicletas elétricas,
tuk-tuk, skates, Ubers e etc. Carros voadores, por enquanto, só nas palestras.
O “Quase lá” é o que vem se formatando nesses últimos cinco anos e que parece ser
inevitável
não se tornar comum ao nosso dia a dia. Estamos falando de Blockchain e suas
infinitas
possibilidades, a voz das ditas minorias neste mundo ainda pouco inclusivo e do
CRISPR, que
vai revolucionar tudo aquilo que tem DNA. Já imaginou seu DNA metabolizar o fator
que faz a
gente engordar? Ou o mosquito que não passa dengue ou malária? Então, vai rolar.
E por fim o “Será?”, este lugar imaginário onde a vontade e a dúvida coexistem. É o
caso de
como lidaremos com a privacidade. Um desses assuntos é o caso do Solid, incrível
projeto do
Tim Berners Lee, que de forma muito inteligente, propõem uma forma de devolver o
controle
dos dados para seus proprietários.
O Festival não trata de verdades, trata de incertezas. É o local onde se iniciam as
conversas e jamais onde elas se fecham. Como bem pontuou a congressista OC, se você
quer
mudar, então concorra ao cargo. Se você tem medo, então use a seu favor e transforme
em
coragem.
O mais legal é que todos esses temas se recombinam entre si. O que Já é, Será. O
Quase lá,
Já é ou que Será tá Quase lá.
Voltar com mais dúvidas do que certezas parece ser a grande brincadeira. Se queremos
mudar o
mundo, devemos ter em mente que só empreendedorismo nos levaria a montar uma fábrica
de
vassouras. E que só criatividade nos faria contar que vassouras podem voar. Nossa
coragem e
valor está na intersecção das duas coisas. Isso sim é inovação.
Cidades são fascinantes pois são temporais. Nos conectamos com elas através de sua história, não de suas ferramentas. Nos conectamos com pessoas, não com aplicativos. Não existirá Smart City sem Smart Citizens
Smart Cities são a coqueluche das discussões que envolvem tecnologia e inovação. De
eventos
globais como SXSW e CES à congressos municipais e feira de ciências escolares por
aí.
Muitas são as abordagens, mas sem dúvida o discurso predominante se dá sobre nosso
completo
fracasso com relação as cidades e que a tecnologia de alguma forma irá nos redimir,
afinal
sem ela, não passaremos de uma proposta tristemente mal sucedida
A possibilidade de reorganizar os nossos mundos através de mega projetos será sempre
sedutora, seja para arquitetos, urbanistas, engenheiros, políticos e claro,
publicitários.
Existe sim oportunidades para novas ideias e é óbvio que ninguém vai querer ficar de
fora.
Estas soluções caixa-preta, que prometem resolver nossos problemas, parecem estar de
certa
forma desalinhadas com os fundamentos das invenções e inovações, baseadas na cultura
do
erro, do teste e da experimentação.
Conectar propostas globais com contextos locais só acontecerá de fato quando as
iniciativas
forem lideradas por seus habitantes, que garantirão soluções mais homogêneas,
admitindo
assim as diferenças.
A doação de dados parece já ser algo irreversível e inevitável. Isso nas mãos dos
cidadãos,
mais do que tecnologia, passa a ser um emblemático ato de cidadania. Uma vez que
algoritmos
refletem uma visão de mundo única e individual, se não soubermos entender e propor,
independentemente das nossas profissões, estaremos fadados a sermos organizados pela
visão
de poucos.
Pouco tempo atrás, dizíamos que não havia necessidade de aprendermos inglês ou
computação.
Hoje, é claro ser impossível. A linguagem das máquinas passa a fazer parte das
nossas vidas.
Dominá-las não é obrigatório, mas não saber utilizá-las acabará por nos reduzir a
poucos
espaços da sociedade, principalmente, não nos colocando dentro de uma discussão
extremamente
importante para o futuro das próximas gerações.
Grande parte das iniciativas inteligentes giram em torno de transporte, segurança e
energia.
Pouco se fala de cultura e arte – o que é estranho –, pois cidades do futuro do
ponto de
vista funcional parecem estar muito mais conectadas com o conceito de “Smart Jails”.
Cidades são fascinantes pois são temporais. Nos conectamos com elas através de sua
história,
não de suas ferramentas. Nos conectamos com pessoas, não com aplicativos. Não
existirá Smart
City sem Smart Citizens.
A autonomia dada por esta revolução através de casas autônomas, fazendas autônomas e
carros
autônomos, proclama nossa liberdade, mas também nossa isenção. Hannah Arendt dizia
que fazer
o mal é o simples fato de não fazer o bem.
Se os cidadãos inteligentes nãoÎ participarem ativamente da construção destes novos
modelos,
de uma sociedade mais justa, mais livre com mais tecnologia, perderemos uma grande
chance de
darmos mais poder as pessoas, correndo o sério risco de obedecermos ainda mais.
Já que se trata de uma revolução: Aos dados, cidadãos!
Arendt, Hannah; Eichmman em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. 1999. Tradução: José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras,
Beiguelman, Giselle. Da cidade interativa à cidade participativa, 2016.
Greenfield, Adam. Against the smart city. 2013. New York: Verso Books. Kindle Edition
Acredito ser raro que, ao escrever uma história, a pessoa tenha consciência de que
se trata
de um best-seller no exato momento em que está se escrevendo. Mais raro ainda é
poder viver
uma história que um dia se tornará um best-seller.
Minha introdução ao tema diz respeito a vivermos uma época Nobel, na qual as coisas
estão
mudando radicalmente. Da alimentação à dieta. Do exercício físico à física. Da
ciência à
religião. Nada passará despercebido e, pode ter certeza, influenciará de alguma
forma a
maneira como vivemos e contamos nossas histórias daqui pra frente.
Vivemos um momento único para roteiristas-arquitetos-multi-plataforma. Se isso
existe, não
sei. O que posso afirmar é que o jeito que se escreve hoje dificilmente será o jeito
como
escreveremos amanhã. Um desses arquitetos de histórias chamado Lance Weiler, que tem
em seu
currículo projetos interessantíssimos, diz que "Cineastas serão capazes de colocar
camadas
de histórias sobre o mundo real e que objetos inanimados e locais físicos darão
oportunidade
de engrandecer histórias e envolver o público".
Isso vem acontecendo em plataformas do nosso dia a dia, como computadores e
celulares. Uma
coisa é fato, nos caminhos que a tecnologia abre, a narrativa segue. O vídeo-game,
por
exemplo, já abocanha quantias massivas de dinheiro e, sem sombra de dúvida, figura
como o
conteúdo mais imersivo e envolvente que existe. Diga-se de passagem, em 2010, a
humanidade
gastava 3 bilhões de horas semanais jogando vídeo-game, conforme indicam os estudos
da
pesquisadora Jane McGonial. Mais do que isso, gasta-se com games mais de 10 mil
horas até se
alcançar a adolescência. Um treinamento que, aos olhos dos baby-boomers, não
significa muita
coisa, mas, segundo Malcolm Gladwell, jornalista britânico que cunhou o conceito, é
o tempo
necessário para se tornar excepcional em qualquer tarefa.
Tudo isso para dizer que estas camadas de realidade estão sobrepostas em nossas
vidas e
indissociáveis entre si, ou seja caro leitor, o real intuito deste texto é atentar
para uma
revolução que deixou de ser uma projeção para fazer parte da nossa realidade. A tal
"Internet das coisas" ou Internet of Things - IoT, que, em primeira mão, consiste em
artefatos conectados com a web que estão sempre ligados e interagem entre si e com
seres
humanos.
Neste futuro que já alcançamos, esses objetos irão não apenas mudar a nossa forma de
ler
histórias, como também mudarão as histórias em si. Através da construção de uma nova
identidade sem objetivo definido, deixaremos de tratar diversas situações como
ficção
científica transformando-as em cenas do nosso cotidiano e personagens centrais para
o
desenvolvimento de suspenses, dramas e comédias. Diga-se de passagem, hoje, só no
Brasil,
temos mais de 70 milhões de smartphones. Ou seja, pessoas conectadas à web, servindo
como
sensores e interagindo com o mundo em duas camadas distintas da realidade. Para esta
outra
consciência, somos apenas os sensores devolvendo informações para uma história que
está
sendo construída sem o consentimento.
Nós experimentamos o nosso meio ambiente e o que está nele através dos sentidos
físicos, mas
percebemos nosso ambiente, o que é bom ou ruim sobre ele, através de histórias.
Pensando
nisso, podemos recodificar o significado original de praticamente todos os objetos e
evoluir
esta integração com o passar do tempo, e conforme eles se integram a nossa vida.
Diversas
metodologias são necessárias para estudar como narrativas podem ser construídas
entre
pessoas e objetos, uma vez que ambos são ativos e passivos a interações, o que
permite
múltiplas continuidades e distintos desfechos.
Uma coisa importante é que o storytelling da internet das coisas requer uma
adaptação ao
meio, pois lidará com novos contextos, uma vez que existem interações por parte das
pessoas,
dos objetos e por vezes até do próprio ambiente. Uma história mais complexa, que
requer
arquitetos roteiristas, em que, por vezes, as pessoas poderão ser o cenário e os
objetos
seus personagens. É o conteúdo agindo como software em vez de fazer seu papel
enquanto
literatura.
Com "coisas" sensíveis a estímulos podemos, com o passar do tempo, modificar seu
significado
original e evoluir com sua significância a medida em que interagimos e integramos
eles às
nossas vidas, pois, em algum momento, essas coisas poderão aprender com nossa
experiência e
a partir daí, meu caro, o significado das coisas em si mudará.
A web veio para servir a humanidade, diz Tim Berner-Lee, o pai da internet. Ela não
nasceu
para poucos, para ser espionada e muito menos controlada. Estas "coisas", também
chamadas de
social machines, vieram para ficar e não devem ser estudadas de forma displicente.
Definitivamente, este não será o papel delas em nossa história.
A grande revolução da internet das coisas irá se dar quando deixarmos de enxergá-la
através
de um microscópio para enxergá-la através de um telescópio, diz John du Pre Gauntt.
Hoje,
vemos apenas redes agregando valor a um produto. Isso acontece quando ligamos um
carro e ele
se comunica com o fabricante para fazer um diagnóstico ou um porta guarda-chuva que
diz se
vai chover. Uma teoria "produtocêntrica", na qual todo universo gira em torno do
produto,
assim como aconteceu com o Google Glass.
A forma mais inteligente parece indicar para uma teoria "redecêntrica", na qual os
produtos
agregam valor às redes e a ação encontra-se quando os objetos interagem com outros
objetos,
locais e pessoas, e eles deixam de estar apenas conectados para serem a conexão e se
tornarem sociais em si. Com uma fonte de dados compartilhada e design de produtos
que
envolvam diferentes públicos, podemos ir muito longe, já que existem milhões de
produtos
prontos para ser fonte para as pessoas. Porque não ter um guarda-chuva que acende o
cabo nos
indicando para pegá-lo pois pode chover?
A monetização em torno do conteúdo foi pensada para desktops e telas, mas, ao que
tudo
indica, a comunicação entre as parte se dará inicialmente através de alertas e não
conexões
a endereços. A rede social já é um prenúncio deste caminho. Não nos conectamos mais
a um
endereço. Ela simplesmente já está lá quando ligamos nosso celular ou nosso
computador. Tudo
hoje está tageado, faz parte de um perfil e tem preferências.
De acordo com Peter Semmelhack em seu livro Social Machines, as redes sociais em um
futuro
próximo não serão constituídas apenas de seus amigos e familiares, mas também de
geladeiras,
carros e quem sabe mais o futuro nos permita. As máquinas sociais serão os
catalisadores
para novas formas de networking.
Isso já tem acontecido. Alguns produtos têm saído de fábrica com uma identificação
física,
que pode ser um código de barra, QRcode, NFC, RFID, BLE, dentre outros. Uma vez com
identificação, o canal de comunicação passa a ser o objeto em si e a rede é
estendida para
além de um site ou uma rede social, e este ativo com relação a ambos. Uma conexão
tão
intrigante que une produto, usuário, mídia, canal de distribuição em um só conjunto.
Uma
experiência tão rica, com tanto valor em si mesma, que a estratégia de
desenvolvimento se
confunde com a própria estratégia de comunicação e vendas.
Uma mudança radical na construção de carreiras, para uma nova geração de
profissionais
híbridos e um posterior refinamento natural das funções já é realidade. Óbvio que
isso não é
nenhuma novidade, temos uma enchurrada de novas proporções versus a uma extinção em
massa de
outras. É inevitável. Teremos que incorporar isso as nossas vidas e principalmente
para esta
nova geração de comunicadores, profissionais infinitamente mais detalhistas.
Dificícl ser
generalista e detalhista ao mesmo tempo, mas ao que tudo indica, é assim que as
coisas
serão.
Que comportamento humano desbloqueará produtos ou serviços conectados? Que
informações uma
pessoa precisa agora e de que forma interagir significativamente com um produto ou
serviço
conectado? Como vamos preparar as pessoas para viver em parceria com Big Data e
Inteligência
Artificial? Estes também serão problemas que precisaremos resolver para poder contar
histórias sem paracer que estamos falando "tecniqunês" da informática e da
engenharia. Sei
que é difícil, mas mo que você decida abandonar tudo e ir para o campo, dificilmente
irá se
safar, afinal a revolução possui tentáculos por todos os lados.
A internet das coisas nos permite, em outro aspecto, fazer algo inimaginável até
pouco
tempo. Não dependemos mais da indústria para suprir a nossa necessidade de produtos.
Podemos, por conta e risco, desenvolver nós mesmos segundo nossas necessidades. Ou
seja, por
que abdicar de um sistema de irrigação de sua horta em sua comunidade de
permacultura, ou,
quem sabe, usar as mesmas plataformas de prototipagem que brotam por aí como
Arduínos e
Raspberry Pis, para alimentar os animais do seu sítio? Parece que núcleos autônomos
têm mais
condições de florescer e, por esse caminho, identificamos uma nova história de
pessoas
voltando para o campo a fim de construir uma vida mais ligada à terra e aos meios de
produção de alimentos orgânicos.
Em primeiro de março de 2012, o Monkey House em Nova York fechou após 111 anos . Em
vez de
colocar todos os macacos em um só lugar, o Jardim Zoológico de Bronx determinou que
os
macacos deveriam viver de acordo com seu habitat natural. Seria mais humano para
eles e mais
educativo para nós. Agora, quando você vai para o Jardim Zoológico de Bronx, os
macacos são
distribuídos por vários habitats em vez de serem colocados em um edifício.
Nós somos primatas também. Nós crescemos e convivemos com histórias para a coesão
social.
Nós compartilhamos histórias pelo simples prazer de estarmos juntos e investimos em
objetos
com histórias para torná-los distintos e valiosos. Estes produtos já estão por aí.
Temos
portas que abrem ao nos aproximarmos delas. Cancelas que levantam ao aproximarmos
nossos
carros, falta muito pouco para que possamos ler notícias que tem a ver com a gente
no
espelho do banheiro enquanto escovamos nossos dentes ou ter escovas de dente que
conversam
entre si e nos ensinam melhores formas de escovar pois aprenderam com a experiência
de
outras escovas.
Qual é o ponto de vista das máquinas sobre as coisas e como elas podem nos ajudar? É
isso
que iremos viver em breve e, quem sabe num futuro muito próximo, você, leitor,
esteja lendo
uma história escrita por um produto e não a opinião de um humano sobre ele. Falta
pouco para
lermos um best-seller não humano.
TED: Gaming can make a better world - Jane McGonigal
https://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=en#t-72889
http://filmmakermagazine.com/37083-listen-as-your-story-talks-to-the-internet/#.Vh5sArRViko
http://postscapes.com/storytelling-and-the-internet-of-things
https://medium.com/iot-storytelling/storytelling-for-the-internet-of-things-7bc3d9e083dc
Mobile Report Nielsen IBOPE Julho/15
http://www.oreilly.com/pub/e/3442
Object Narratives: Alexis Lloyd (The Future of StoryTelling)
https://www.youtube.com/watch?v=2zGghmoYvdg
http://www.geoffreylong.com/wordpress/archives/1981
Inovar consiste em saber entender e interpretar as mesmas histórias em papéis diferentes e contextos distintos. Entendendo isso, somos capazes de construir relevância e sentido aos nossos conteúdos.
Antes de recriminar este típico título de livro de auto-ajuda com pitadas de blog de
tendências, dê uma chance ao texto e continue. A linha entre e o brega e o inovador
sempre
será tênue. Para quebrar a barreira da mesmice há de se ter uma boa dose de ousadia,
o que
nos faz correr o risco de parecer ridículos aos olhos dos outros. E apesar de muito
do que
você vai ler aqui já ter feito parte da sua vida em algum momento, talvez você nunca
tenha
visto desta maneira. Aproveite este universo de possibilidades a caminho da inovação
sem
preconceitos.
Conhecer histórias é conhecer pessoas. E ao conhecê-las, nos tornamos capazes de
proporcionar experiências únicas. E em um mundo com tantos estímulos, só aquilo que
fala
diretamente com a gente é capaz de garantir nossa atenção. Saber individualizar o
conteúdo é
a chave para os novos roteiros. Saber com o que as pessoas se identificam de
verdade,
interpretar seus sinais, compreender suas histórias é, de uma vez só, ter a chave da
razão e
do coração ao mesmo tempo.
Todos no mundo se identificam com histórias diferentes em momentos distintos da
vida. Não
importa se é com a Peppa Pig, Gengis Khan ou Ghandi. Todas as histórias possuem
elementos
com os quais, dependendo do contexto e do momento em que nos encontramos, iremos nos
identificar mais ou menos. Na verdade, mais do que identificação, buscamos de alguma
forma
ser os protagonistas destas histórias.
Saber o porque de nos identificarmos com a estrutura destas narrativas e com estes
protagonistas é uma resposta que podemos encontrar dentro de uma ciência que atende
pelo
nome de narratologia. Suas teorias têm o objetivo de descrever o funcionamento da
narrativa
e demonstrar os seus mecanismos para identificar o que as diversas histórias possuem
em
comum, e como são capazes de recriar constantemente o universo em que vivemos.
A teoria da narrativa pode ser analisada de muitas formas: pela ordem cronológica, a
sequência na qual os acontecimentos ocorrem, dentre outros, mas o foco deste texto é
falar
menos a respeito das estruturas e um pouco mais a respeito do conteúdo e sobre o que
de fato
essas histórias buscam contar.
Por mais que a linguagem consiga expressar o que deve ser dito, sempre vai faltar
algo. Toda
a forma de expressão possui perifericamente alguma forma de simbolismo, que pode ou
não ser
contado se utilizando da linguagem. Comunicar é algo complexo e existem muitas
maneiras de
se fazer, mas principalmente, através das figuras de linguagem que conseguimos abrir
estes
grandes portais, tendo no decorrer dos tempos artistas, filósofos e religiosos como
porteiros.
As narrativas metafóricas sugerem a coexistência de contextos imaginários.
Interpretá-la ao
pé da letra, e não com a liberdade poética que exige, é um erro. Todas as imagens
que
construímos metaforicamente a respeito da natureza, por exemplo, tem a ver com algo
que
existe dentro de nós. Com os nossos mitos e histórias. Como disse Novalis, “o pouso
da alma
é aquele lugar onde o mundo interior e o exterior se encontram”.
Antes de entrar neste ponto, é importante dizer que se fala nisso há muito tempo.
Prova são
os exemplos, a seguir, de diferentes pensadores, que discorrem sobre o tema. O russo
Vladimir Propp, em "Morfologia do Conto Popular”, reduziu todas as narrativas a
trinta e um
elementos fixos. Além dele, Lévi-Strauss, a partir de uma análise estruturalista,
disse em
seu livro "Antropologia Estrutural" que o que importa são os mitos, variações que
foram
amplamente difundidas através de elementos constantes na estrutura, que pretendo
explorar
com este texto.
Tzvetan Todorov, por sua vez, dizia que a narrativa se constitui na tensão de duas
forças.
Uma é a mudança e a outra a ordem e se constituem na tensão das duas. Carl Jung
também
entendeu que uma estrutura mítica é essencial tanto por uma questão do consciente
quanto do
inconsciente, em que o herói representa o protagonista e os arquétipos os
coadjuvantes da
história, pelos quais o protagonista deve passar para concluir sua existência com
êxito.
A maior sumidade em mitos é sem dúvida Joseph Campbell. Em seus livros "As máscaras
de Deus"
e "O Herói de mil faces" aproximou elementos até então desconexos. Reconhecido como
um
grande generalista, acabou por influenciar roteiristas, diretores e produtores ao
redor do
mundo, dentre eles George Lucas, que arrastou gerações através da célebre frase
mítica “Que
a Força esteja com você”; Os irmãos Wachowsky, em Matrix, e até a própria Disney,
que em um
memorando entitulado "A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas"
influenciou
diferentes filmes na década de 90, que passavam por um check-list antes de serem
produzidos.
Mitos sempre transitaram entre todas as gerações e há evidências da existência de
mitos
idênticos em povos e culturas distintas, que nunca tiveram suas tradições cruzadas
em
momento algum da história. O mais difundido no ocidente é o de Jesus Cristo, que
nasceu de
uma virgem no dia 25 de dezembro e três reis magos anunciaram seu nascimento. No
decorrer de
sua vida, se juntou a doze pessoas, que se tornaram seus apóstolos, executou
milagres, foi
perseguido, morto, crucificado e, três dias depois, ressuscitou.
Até aí nada novo, não fosse o fato de haver mais de cinquenta histórias idênticas a
essa
antes do ano um, incluindo personagens considerados pagãos, mas de grande
envergadura
histórica, como Horus, Atis, Krishna, Dionisio e Mithra, para citar alguns.
Colocando as
crenças de lado, a pergunta que devemos nos fazer é por que a mesma história foi e
continua
sendo contada em diferentes culturas, até os dias de hoje? Qual o mito e o que
podemos
aprender com elas?
É importante saber que, se vamos falar do princípio da história da civilização, é
necessário
dividi-la entre duas culturas básicas: a da caça e a da agricultura. Na agricultura,
o ciclo
de plantio sempre foi determinante. E os povos que tinham sua cultura baseada na
agricultura
eram muito atentos ao que acontecia no céu, percebendo que os padrões da natureza de
tempos
em tempos se repetiam diante de seus olhos.
Isso pode soar um tanto romântico em um mundo com computadores. Mas há dez mil anos
não era
bem assim. Foi observando o comportamento da natureza que nossos antepassados
perceberam,
por exemplo, que o Sol, no decorrer de 365 dias, diminui seu arco visível, atingindo
seu
menor trajeto no dia 22 de dezembro. Este é o dia da morte do Sol, o ápice do
inverno,
quando toda a colheita está comprometida. Ali, permanece por três dias inteiros,
voltando a
se distanciar do horizonte no dia 25, o grande dia da renovação, sinalizando que os
dias
serão maiores e o ciclo da agricultura volta a acontecer.
Como se não bastasse, Sirius, a estrela mais brilhante, fica alinhada com as Três
Marias.
Fora do Brasil, são as três estrelas do cinturão de Órion e no dia 25 de dezembro
pela
manhã, as três estrelas apontam exatamente para o Sol nascente, alinhado no centro
da
constelação do Cruzeiro do Sul.
Na cultura da caça, o que ficou claro é que tudo que é vivo depende de outra vida,
onde
sobreviver era tão somente sinônimo de caçar. Em meio a um clima hostil, homens de
Neandertal e animais selvagens duelavam diariamente e que influencio Charles Darwin
no
século XIX que dizia: "Os mais aptos têm mais chances de sobreviver" e nessa cultura
os
mitos eram outros.
Os mitos nos contam sobre ideias elementares, as quais Jung denominou arquétipos.
Estes
aparecem sob diferentes roupagens durante a história da humanidade. Através deles,
buscamos
experimentar o mundo e aquilo que transcende. Buscamos experimentar o divino. Quando
fazemos
isso sozinhos, sonhamos, mas quando sonhamos em conjunto, construímos um mito. É
neste
momento em que consolidamos a questão do inconsciente coletivo de que Jung tanto
falava.
Tentar compreender e identificar traços de nossa personalidade é uma maneira de
destrinchar
nossos mitos. Desde os gregos tentamos fazer isso. Hipócrates, por exemplo, um dos
pais da
medicina, classificou os seres humanos em quatro temperamentos-base: sanguíneo,
colérico,
melancólico e fleumático. Hoje, com os modelos atuais, conseguimos cobrir grande
parte dos
traços de personalidade e, com isso, prever com um bom grau de veracidade como as
pessoas
irão se comportar e com o advento da internet, a manifestação dessas personalidades
protagonistas ficou mais fácil de se monitorar.
Assim como o homem primitivo deixava marcas por onde passava, deixamos nossas
pegadas
virtuais, uma espécie de registro da nossa história na internet, através do qual é
possível
decifrar perguntas existenciais a respeito de nós mesmos. Um dos melhores projetos a
respeito é o http://applymagicsauce.com/, da Universidade de Cambridge. Com um
simples login
usando o Facebook Connect, o aplicativo é capaz de cruzar informações e revelar
dados a
respeito da vida particular que deixaria mães de cabelos em pé. Outra iniciativa bem
é o
http://www.16personalities.com, com versão em português, através do qual é possível
descobrir um pouco mais a respeito de sua personalidade
Grande parte das pessoas desejam compartilhar suas histórias, pois a ssim se validam
em
grupo e as marcas nunca tiveram um cenário tão rico para identificar a história com
a qual
seu público se identifica. A marca o representa e fala o que a pessoa pensa. Estas
tendências têm relação com as histórias do seu target. E estas histórias,
essencialmente,
com um mito, afinal, consumidores compartilham histórias. Nunca marcas
A criação do nosso universo e a história da humanidade, da nossa evolução ao longo
dos
milênios, pode ser contada através de diferentes mitos. Do Big Bang à Bíblia
Sagrada. Do
Oriente ao Ocidente. As histórias colocam novas roupagens, mas seu sentido moral é
sempre o
mesmo. Inovar consiste em saber entender e interpretar as mesmas histórias em papéis
diferentes e contextos distintos. Entendendo isso, somos capazes de construir
relevância e
sentido aos nossos conteúdos. Mais do que isso, neste caminho, atribuímos sentido às
nossas
vidas.
A inovação está muito mais presente enquanto compreender as semelhanças do que focar
nas
diferenças. As semelhanças são amplas e, através delas, promovemos a mútua
compreensão entre
os seres. Como dizem os Vedas, as escrituras sagradas mais antigas da história: ”A
verdade é
uma só, mas os sábios falam dela sob muitos nomes".
Escute aqui os áudios:
CAMPBELL, Joseph. The Hero with a thousand faces. Mythos, 1973.
CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito. Pallas Athena, 1990.
PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. Forense Universitária, 1984.
CESARE, Segre, Introdução à Análise do Texto Literário, 1999
BERMAN, Antoine. L'épreuve de l'étranger. Culture et traduction dans l'Allemagne romantique: Herder, Goethe, Schlegel,
Novalis, Humboldt, Schleiermacher, Hölderlin. París: Gallimard, 1984. ISBN 978-2070700769.
Bhadantacariya Buddhaghosa, Bhikkhu Nanamoli (trans.), O trajeto do purification, Publicar De Seattle Pariyatti
(Sociedade Buddhist Da Publicação), 1999. ISBN 1928706010.
hhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ol%C3%ADmpicos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ap%C3%B3stolo#Os_doze
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&link_id=69:narratologia&task=viewlink2
http://pt.wikipedia.org/wiki/Narratologia
http://www.historias.interativas.nom.br/lilith/aula/apostilas/narratologia.pdf
Zeitgeist, o filme
Das poucas certezas que temos, é de que a publicidade de amanhã certamente não será a de hoje. Não há dúvidas de que o mercado busca se aperfeiçoar, mas infelizmente o faz num ritmo inferior a outros setores.
Antes de mais nada precisamos deixar claro uma coisa: a criatividade está para a
subjetividade assim como a inovação está para a objetividade. No geral, a
criatividade está
nos olhos de que vê, já a inovação, não necessariamente. Fazendo um paralelo com a
lógica,
que é estudada por duas ciências distintas: a matemática e a filosofia, podemos
perceber que
enquanto uma se prova perfeitamente dentro de um universo matemático, é impossível
alçar
novos caminhos sem recorrer a vertente filosófica. O mesmo acontece na contramão
pois, sem a
estrutura da primeira a segunda jamais se construiria. É quase paradoxal. Apesar de
serem
complementares em sua essência, são distintas.
Isso se dá entre os dois tópicos deste texto. Criatividade, por definição, é algo
complexo.
Há quem defenda ser a memória RAM da evolução biológica, Dostoivesky dizia que a
necessidade
de criar nem sempre coincide com as possibilidades de criação. Já Antônio Damásio
diz que
criar consiste não em fazer combinações inúteis, mas em efetuar aquelas que são
úteis.
Uma coisa é fato. Criar tem a ver com escolher, pois sem a escolha ela nunca sairá
da sua
cabeça.
Inovação por sua vez está mais ligada à ideia de aperfeiçoamento, em ganhar
eficiência,
melhorar algo. É um conceito amplamente trabalhado e sem sombra de dúvidas orientada
para
resultados mais práticos e sensíveis ao senso comum. Inovar não é inventar. Saber
disso nos
afasta da angústia de ter que criar algo original e pioneiro dentro de nossos
estudos e
nossas profissões. Como diria Lavoisier: “Tudo se transforma. Nada se cria”, ou
seja, tudo
de alguma forma sempre será referencial.
Ser o primeiro não é necessariamente uma vantagem, a não ser que você esteja
correndo os cem
metros rasos. Tiro para cima, explosão e acabou. Temos aí Benjamin Franklin, Google,
Facebook e um milhão de outros exemplos que foram frutos do aperfeiçoamento,
principalmente
por ter concorrentes lado a lado. O mercado está mais para uma maratona e isso só
faz
sentido quando seu intuito é dizer que pensou primeiro e isso não funciona para o
mercado em
geral. Só funciona na publicidade.
O papel da agência sempre estará ligado a criatividade e inovação, mas com o
compromisso
claro de dar resultados para seus clientes e para si mesma. Por isso, seu modelo de
negócios. direcionado para trabalhar com as mídias estabelecidas. Afinal, os valores
para
utilização destes espaços são bem altos e por conta de uma lei, os veículos são
obrigados a
repassar vinte porcento deste valor, pagos pelo anunciante para a agência.
Embora haja muita gente bem intencionada e fazendo bastante coisa para mudar, existe
um
grande espaço inexplorado. Tudo ainda é um grande concurso cultural e quando de fato
há algo
fora da caixa, a mensagem que querem passar para o público está mais para: - Olha só
como o
mundo seria melhor se esta marca fizesse isso.
Não é legal? Tomara que a empresa para qual demos essa ideia também acredite nisso.
Digo
isso, pois ser inovador é caro e para uma agência ser reconhecida como criativa e
inovadora
precisa de apenas um prêmio pela sua capacidade de dizer que pensou primeiro, não é
por
resultados e nem pela sua realização.
Como disse Bill Murray, nossos celulares têm dois milhões de vezes mais capacidade
que o
computadorda Apolo 11 e enquanto este levou o homem à lua, nós arremessamos
passarinhos em
casas de porcos. É mais ou menos assim que funciona. Lá dentro existem pessoas
brilhantes,
com ideias mirabolantes, com capacidade de mudar o mundo, mas onde o maior desafio
do seu
dia é escrever slogans de sabão em pó.
O público quer participar, mas os criativos não sabem ainda o que é poss.vel. Em
geral, a
publicidade se auto referencia e a base para um anúncio de amanhã, é o anúncio que
foi feito
ontem. As ideias começam surgir a partir de mecanismos de busca do próprio mercado
publicitário, depois boards do Pinterest onde seus alimentadores são designers e
publicitários e quando isso não dá certo, daí sim começa-se a paleontologia digital
e a
escavação de fósseis de livros oldschool.
Ter uma ideia boa requer tempo para pesquisa, requer tempo para se atualizar, para
aprender
tudo àquilo que não tem a ver com slogan de sabão em pó. A criação é sempre
referenciada e
não precisa estar a par do que está sendo feito o tempo todo.
Isso é angustiante demais e útil de menos, utilidade que de fato nunca são premiadas
nestes
festivais ao redor do mundo.
Grandes empresas possuem departamentos especializados no desenvolvimento de
produtos, onde
estudam a viabilidade, prototipam, escalam a produção e elaboram a melhor forma de
transformar estes produtos em algo viável. Estas ideias tem se tornado novos modelos
de
negócio e isso ao invés de se tornar uma grande oportunidade para as empresas, por
fim se
transformam em um grande problema, resumindo, são problemas e não soluções que são
apresentadas.
Das poucas certezas que temos, é de que a publicidade de amanhã certamente n.o será
a de
hoje. Não há dúvidas de que o mercado busca se aperfeiçoar, mas infelizmente o faz
num ritmo
inferior a outros setores. O futuro da criatividade da publicidade não está no
modelo de
agências que conhecemos hoje, principalmente no Brasil.
Outra coisa importante de deixar claro é o conceito de transmídia. Henry Jenkins diz
que se
trata de uma narrativa que percorre diversas mídias. Visto pela perspectiva dos
publicitários, isso não passa de uma campanha integrada, 360, onde o mesmo discurso
é
comunicado de forma igual em todos os meios.
Porém, o ponto central de diferenciação é o fato de que em cada meio a história é
contada de
uma forma diferente e que se possível, seja interativa, na qual o público possa de
alguma
forma participar.
Na publicidade, ainda é muito comum ouvir gente dizendo se uma ideia é “online”ou
“offline”.
Eu entendo como sendo “on” aquilo que é transm.dia / interativo e aquilo é “off”
como sendo
mídia / não interativo. Mas qual é mais criativa? De verdade, não existe melhor, são
diferentes e devem ser exploradas de acordo com as necessidades e possibilidades do
produto
em questão. Sinceramente, como afirmar que Laranja Mec.nica do Kubrick é melhor que
o filme
Labirinto, dos estudantes da UNESP? O que é inovador, muitas vezes não é
necessariamente
melhor.
Esta história me lembra do famoso caso de que quando apareceu a fotografia, grande
parte das
pessoas anunciaram o fim da pintura. Com o aparecimento do cinema, o mesmo aconteceu
com a
fotografia. Hoje vemos o mesmo em relação às estratégias transmidiáticas e a
ind.stria
gráfica. Ninguém vai parar de imprimir nem de fazer conteúdos que não sejam
interativos. O
que fica claro é a reacomodação dos setores. Esta visão apocalíptica sobre a
extinção serve
apenas como publicidade.
Quando pensamos em transmídia, o ponto está muito mais ligado ao como fazer do que
necessariamente o que fazer. O roteiro colaborativo, com participação da audiência é
algo
bem antigo. Me desculpem os religiosos, mas na minha opinião, o exemplo mais bem
criativo,
inovado e bem sucedido disso é a Bíblia. O livro dos livros é sem dúvida um dos
melhores
exemplos para falar sobre engajamento.
Ele é constru.do a partir de ótimas histórias que de alguma forma se conectam com o
inconsciente da gente. E nenhuma ideia funciona sem uma boa história, sem um grande
mito. É
aí que as pessoas se reconhecem, onde faz sentido. Inovar é melhorar, aperfeiçoar,
superar e
quando superaçaoo é o tema, nenhum mito explica isso melhor que Daniel San. Estamos
falando
do mito do herói, aquele que desde a Grécia, tem um lugarzinho de destaque no
imaginário
coletivo. É aí que a história da inovação se desdobra. Um caminho que remete ao mar
de
espinhos antes das rosas e onde faz sentido sofrer, passar por um mar de pizzas,
chefes
assírios e ônibus lotados para se chegar ao objetivo.
A íltima revolução é a dos costumes, sinalizou George Orwell em sua obra. A audiência
já
entendeu que pode ser ouvida, engajamento é uma palavra mais utilizada na
contemporaneidade
do que amor e roteiristas ao redor do mundo já começaram a rabiscar de alguma forma
narrativas que permitam este tipo estruturação. O que de melhor existe em relação a
narrativas interativas são sem dúvidas os jogos de vídeo game. Só neles você tem uma
experiência completa de interatividade, onde de fato influencia o protagonista, ao
ponto do
personagem ser você. Roteiristas de games são o que há de melhor no quesito
interatividade.
Agências especulam sobre o futuro e contratam parceiros para materializar o que
precisam
contar, portanto, se o interesse for inovação e criatividade, o mercado de start-ups
é sem
dúvida o mais fértil. Cresce a cada dia e estão pensando coisas úteis e trabalhando
para
fazer acontecer. Agências vão fazer um filme sobre como seria bom se isso existisse
apenas.
Se você tiver uma ideia boa que seja realmente útil, estruture-a e busque na
internet por
investidor anjo. Me parece fazer sentido que em um futuro próximo, agências se
tornarem
empresas que ajudam na construção de modelos de negócios, uma empresa de consultores
em
inovação, criatividade, sociologia e claro, comunicação. Elas definiriam as melhores
mídias,
os fundos de capital anjo e que estes por sua vez financiariam a operação tendo na
compra
desta empresa. É só dizer que elas terão vinte por cento da start-up que me parece
possível
acontecer.
Projetos criativos e inovadores são como um filho. Se não houver dedicação ele
morre; você
não pode desistir. Apesar de uma ideia ser reconhecida pela criatividade, ela só vai
realmente dar certo por causa da teimosia. Uma grande ideia, ao contrário do que
todos
pensam, tem tudo para não dar certo e lembre-se de Scott-Heron quando decidir buscar
informações sobre estas mudanças: “a revolução não será televisionada”.
Eu admiro quem é atriz, modelo e manequim.
Digo isso, pois na minha profissão, admiro quem pensa “on”, “off” e todas as outras
variações que um player permite.
Desde que comecei a conhecer pessoas, as mais incríveis que eu conheci sempre
conjugaram o
verbo “to be”, sempre como “estar” e nunca como “ser”.
Hoje, quando me perguntam o que sou, digo que estou diretor de criação, de arte,
redator,
profissional transmídia, fotógrafo, artista multimídia e um monte de outras coisas
que eu
possa “estar sendo” naquele determinado momento.
Esta auto-definição não foi muito bacana comigo no começo da minha carreira. Eu até
entendo
que a academia valorize muito mais os especialistas do que os generalistas, embora
isso
nunca ter feito muito sentido na minha profissão. Quando era pequeno e perguntava
para o meu
pai o que era um publicitário, ele me dizia se tratar de um cara que sabia de tudo
um pouco.
Foi justamente pelo caminho que e fui e quase acabei voltando.
Publicitários são generalistas em sua essência, nunca se resumiram a isso ou aquilo.
São
bons em diagnósticos e são naturalmente interessados por diversos assuntos.
É claro, que entre o monólogo e o diálogo, sempre ficarei com o segundo, ou seja,
quando as
pessoas participam é sempre mais interessante e enriquecedor, o que não impede que o
monólogo também não seja interessante. Adoro palestras, mas prefiro a parte final
das
perguntas. Interações constroem relações e o ser humano é um bichinho social.
Por isso, prestar mais atenção ao modo no qual trabalhamos me parece fazer muito
mais
sentido do que nos auto intitularmos pelo que fazemos. Ver as coisas de forma
ingênua e
dialogar sobre esta visão se prova cada vez melhor do que viver com a aba de
comentários
desabilitada.
Acredito em aperfeiçoamento, não em Eurekas. Acredito em gente, não em gênios. Vou
admirar
pra sempre quem é atriz, modelo e manequim.