JANELAS REBELDES

May 11, 2020

O projeto Janelas Rebeldes é uma leitura sonora do impacto do coronavírus na cultura urbana, do ponto de vista da cidade de São Paulo (SP, Brasil). A fim de estudar a potência do som como marcador social e indicador político e ideológico, iniciamos um processo de captação coletiva e distribuída em 10 diferentes pontos da cidade. Os áudios são registrados três vezes ao dias e também nos momentos de protesto que são feitos a partir das janelas.

O conjunto dessa documentação sonora alimentará uma instalação e/ou uma plataforma on-line que visa dar visualidade e geografia às informações coletadas. A heterogeneidade social da cidade de São Paulo e as particularidades "negacionistas" da presidência de Jair Bolsonaro sobre a realidade da pandemia, impuseram às inéditas condições de isolamento social, características que se tornavam visíveis na nova paisagem sonora da cidade.

Nos bairros centrais, os ruídos da infraestrutura urbana foram substituídos pelo canto de pássaros. Contudo, a 30 km dali, na periferia, a música, os encontros na rua, a impossibilidade do teletrabalho e a proximidade com as diretrizes do bolsonarismo expressaram que o som da cidade revela não apenas marcadores sociais, mas no caso brasileiro, indicadores políticos e ideológicos. Momento revelador são os protestos nas janelas, às 20h30, quando, na impossibilidade de ir às ruas, os habitantes recorrem às panelas para protestar.

Nos fins de semana, são comuns as carreatas dos apoiadores do governo, que se manifestam de dentro de seus automóveis. A resposta das janelas é frequente e reveladora de nossas contradições,indicando que o mapeamento sonoro pode funcionar como um metodologia para pensar o urbanismo a partir do Sul Global.

Escute aqui os áudios:

GRUPO

Aline Alves Nakamura
Ana Paula Alves Leal
Bruno Seravali Moreschi
Giselle Beiguelman
Helena Cavalheiro
Iago Vieira Santos
Icaro de Abreu
Laura Salerno
Livia Debbane
Luciana Moherdaui
Marcos Assis Piffer
Maria Claudia Levy
Matheus da Rocha Montanari
Paula Monroy
Sandra Kafka
Vinicius Santos Almeida

Artistas gravam sons das cidades que ficaram desertas por causa do coronavírus. Folha de São Paulo, 11 de abril de 2020.

Com Emicida, podcast discute o silêncio e o ruído na quarentena, Podcast Expresso Ilustrada, 16 de abril de 2020

Jornal da TV Cultura, 22 de abril de 2020

Como são os sons da cidade na quarentena?. Jornal da USP, 27 de abril de 2020



SXSW: DISNEYLÂNDIA DE PALESTRAS

March 19, 2019

Mais do que apenas um norte com relação à inovação. É destino certo, sem escalas e de primeira classe


Já dizia Albert Einstein, uma vez que sua mente se expande, ela nunca mais retorna ao seu estado anterior. Funciona com sabores, cheiros, sons, com todo tipo de experiência e conhecimento.

É nessa supernova sensorial que se encontra o SXSW. Um lugar no qual um só cano multiverso te leva a um show da Joan Jett, um sushi impresso 3D e um livro psicodélico.

Ao apostar nesta roleta de painéis, palestras e shows, o resultado é sempre sorte, pois aquilo com o que você nunca se conectaria, de repente, te pega de surpresa e te deixa refletindo pelos próximos dias.

Nesta Disneylândia de palestras onde você troca de canal com o seu corpo, aquele documentário que você não assistiria na TV, lá acontece ao vivo e é transformador. Mais do que apenas um norte com relação à inovação. É destino certo, sem escalas e de primeira classe.

Me refiro à inovação na forma mais ampla do termo, como intersecção de empreendedorismo e criatividade e um bom roteiro chamado metodologia pra colocar de pé.

Para facilitar a compreensão, dividi o festival basicamente em três grandes temas: Já é, Quase lá e Será?.

O “Já é”, já era. Não tem volta. Se consolidou e não vamos mais conseguir viver sem. Em geral, tem a ver com temas apresentados nos SXSW de cinco anos atrás. Dentre os macro-temas, temos a inteligência artificial dando maior capacidades aos humanos e mobilidade com o propósito de levar coisas e pessoas do ponto A ao ponto B em segurança. Assim como em algumas cidades brasileiras, Austin fora tomada por patinetes, bicicletas elétricas, tuk-tuk, skates, Ubers e etc. Carros voadores, por enquanto, só nas palestras.

O “Quase lá” é o que vem se formatando nesses últimos cinco anos e que parece ser inevitável não se tornar comum ao nosso dia a dia. Estamos falando de Blockchain e suas infinitas possibilidades, a voz das ditas minorias neste mundo ainda pouco inclusivo e do CRISPR, que vai revolucionar tudo aquilo que tem DNA. Já imaginou seu DNA metabolizar o fator que faz a gente engordar? Ou o mosquito que não passa dengue ou malária? Então, vai rolar.

E por fim o “Será?”, este lugar imaginário onde a vontade e a dúvida coexistem. É o caso de como lidaremos com a privacidade. Um desses assuntos é o caso do Solid, incrível projeto do Tim Berners Lee, que de forma muito inteligente, propõem uma forma de devolver o controle dos dados para seus proprietários.

O Festival não trata de verdades, trata de incertezas. É o local onde se iniciam as conversas e jamais onde elas se fecham. Como bem pontuou a congressista OC, se você quer mudar, então concorra ao cargo. Se você tem medo, então use a seu favor e transforme em coragem.

O mais legal é que todos esses temas se recombinam entre si. O que Já é, Será. O Quase lá, Já é ou que Será tá Quase lá.

Voltar com mais dúvidas do que certezas parece ser a grande brincadeira. Se queremos mudar o mundo, devemos ter em mente que só empreendedorismo nos levaria a montar uma fábrica de vassouras. E que só criatividade nos faria contar que vassouras podem voar. Nossa coragem e valor está na intersecção das duas coisas. Isso sim é inovação.

Publicado por Meio & Mensagem



AUX DONNÉES, CITOYENS!

May 4, 2018

Cidades são fascinantes pois são temporais. Nos conectamos com elas através de sua história, não de suas ferramentas. Nos conectamos com pessoas, não com aplicativos. Não existirá Smart City sem Smart Citizens


Smart Cities são a coqueluche das discussões que envolvem tecnologia e inovação. De eventos globais como SXSW e CES à congressos municipais e feira de ciências escolares por aí.

Muitas são as abordagens, mas sem dúvida o discurso predominante se dá sobre nosso completo fracasso com relação as cidades e que a tecnologia de alguma forma irá nos redimir, afinal sem ela, não passaremos de uma proposta tristemente mal sucedida

A possibilidade de reorganizar os nossos mundos através de mega projetos será sempre sedutora, seja para arquitetos, urbanistas, engenheiros, políticos e claro, publicitários. Existe sim oportunidades para novas ideias e é óbvio que ninguém vai querer ficar de fora.

Estas soluções caixa-preta, que prometem resolver nossos problemas, parecem estar de certa forma desalinhadas com os fundamentos das invenções e inovações, baseadas na cultura do erro, do teste e da experimentação.

Conectar propostas globais com contextos locais só acontecerá de fato quando as iniciativas forem lideradas por seus habitantes, que garantirão soluções mais homogêneas, admitindo assim as diferenças.

A doação de dados parece já ser algo irreversível e inevitável. Isso nas mãos dos cidadãos, mais do que tecnologia, passa a ser um emblemático ato de cidadania. Uma vez que algoritmos refletem uma visão de mundo única e individual, se não soubermos entender e propor, independentemente das nossas profissões, estaremos fadados a sermos organizados pela visão de poucos.

Pouco tempo atrás, dizíamos que não havia necessidade de aprendermos inglês ou computação. Hoje, é claro ser impossível. A linguagem das máquinas passa a fazer parte das nossas vidas. Dominá-las não é obrigatório, mas não saber utilizá-las acabará por nos reduzir a poucos espaços da sociedade, principalmente, não nos colocando dentro de uma discussão extremamente importante para o futuro das próximas gerações.

Grande parte das iniciativas inteligentes giram em torno de transporte, segurança e energia. Pouco se fala de cultura e arte – o que é estranho –, pois cidades do futuro do ponto de vista funcional parecem estar muito mais conectadas com o conceito de “Smart Jails”.

Cidades são fascinantes pois são temporais. Nos conectamos com elas através de sua história, não de suas ferramentas. Nos conectamos com pessoas, não com aplicativos. Não existirá Smart City sem Smart Citizens.

A autonomia dada por esta revolução através de casas autônomas, fazendas autônomas e carros autônomos, proclama nossa liberdade, mas também nossa isenção. Hannah Arendt dizia que fazer o mal é o simples fato de não fazer o bem.

Se os cidadãos inteligentes nãoÎ participarem ativamente da construção destes novos modelos, de uma sociedade mais justa, mais livre com mais tecnologia, perderemos uma grande chance de darmos mais poder as pessoas, correndo o sério risco de obedecermos ainda mais.

Já que se trata de uma revolução: Aos dados, cidadãos!

Publicado por Meio & Mensagem

BIBLIOGRAFIA

Arendt, Hannah; Eichmman em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. 1999. Tradução: José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras,

Beiguelman, Giselle. Da cidade interativa à cidade participativa, 2016.

Greenfield, Adam. Against the smart city. 2013. New York: Verso Books. Kindle Edition

Rennó, Raquel. Smart cities e big data: o cidadão produtor de dados. 2016. URBS. Revista de Estudios Urbanos y Ciencias Sociales, 6(2), 13-24.



STORYTELLING E INTERNET DE VÁRIAS COISAS

October 15, 2015

Acredito ser raro que, ao escrever uma história, a pessoa tenha consciência de que se trata de um best-seller no exato momento em que está se escrevendo. Mais raro ainda é poder viver uma história que um dia se tornará um best-seller.

Minha introdução ao tema diz respeito a vivermos uma época Nobel, na qual as coisas estão mudando radicalmente. Da alimentação à dieta. Do exercício físico à física. Da ciência à religião. Nada passará despercebido e, pode ter certeza, influenciará de alguma forma a maneira como vivemos e contamos nossas histórias daqui pra frente.

Vivemos um momento único para roteiristas-arquitetos-multi-plataforma. Se isso existe, não sei. O que posso afirmar é que o jeito que se escreve hoje dificilmente será o jeito como escreveremos amanhã. Um desses arquitetos de histórias chamado Lance Weiler, que tem em seu currículo projetos interessantíssimos, diz que "Cineastas serão capazes de colocar camadas de histórias sobre o mundo real e que objetos inanimados e locais físicos darão oportunidade de engrandecer histórias e envolver o público".

Isso vem acontecendo em plataformas do nosso dia a dia, como computadores e celulares. Uma coisa é fato, nos caminhos que a tecnologia abre, a narrativa segue. O vídeo-game, por exemplo, já abocanha quantias massivas de dinheiro e, sem sombra de dúvida, figura como o conteúdo mais imersivo e envolvente que existe. Diga-se de passagem, em 2010, a humanidade gastava 3 bilhões de horas semanais jogando vídeo-game, conforme indicam os estudos da pesquisadora Jane McGonial. Mais do que isso, gasta-se com games mais de 10 mil horas até se alcançar a adolescência. Um treinamento que, aos olhos dos baby-boomers, não significa muita coisa, mas, segundo Malcolm Gladwell, jornalista britânico que cunhou o conceito, é o tempo necessário para se tornar excepcional em qualquer tarefa.

Tudo isso para dizer que estas camadas de realidade estão sobrepostas em nossas vidas e indissociáveis entre si, ou seja caro leitor, o real intuito deste texto é atentar para uma revolução que deixou de ser uma projeção para fazer parte da nossa realidade. A tal "Internet das coisas" ou Internet of Things - IoT, que, em primeira mão, consiste em artefatos conectados com a web que estão sempre ligados e interagem entre si e com seres humanos.

Neste futuro que já alcançamos, esses objetos irão não apenas mudar a nossa forma de ler histórias, como também mudarão as histórias em si. Através da construção de uma nova identidade sem objetivo definido, deixaremos de tratar diversas situações como ficção científica transformando-as em cenas do nosso cotidiano e personagens centrais para o desenvolvimento de suspenses, dramas e comédias. Diga-se de passagem, hoje, só no Brasil, temos mais de 70 milhões de smartphones. Ou seja, pessoas conectadas à web, servindo como sensores e interagindo com o mundo em duas camadas distintas da realidade. Para esta outra consciência, somos apenas os sensores devolvendo informações para uma história que está sendo construída sem o consentimento.

Nós experimentamos o nosso meio ambiente e o que está nele através dos sentidos físicos, mas percebemos nosso ambiente, o que é bom ou ruim sobre ele, através de histórias. Pensando nisso, podemos recodificar o significado original de praticamente todos os objetos e evoluir esta integração com o passar do tempo, e conforme eles se integram a nossa vida. Diversas metodologias são necessárias para estudar como narrativas podem ser construídas entre pessoas e objetos, uma vez que ambos são ativos e passivos a interações, o que permite múltiplas continuidades e distintos desfechos.

Uma coisa importante é que o storytelling da internet das coisas requer uma adaptação ao meio, pois lidará com novos contextos, uma vez que existem interações por parte das pessoas, dos objetos e por vezes até do próprio ambiente. Uma história mais complexa, que requer arquitetos roteiristas, em que, por vezes, as pessoas poderão ser o cenário e os objetos seus personagens. É o conteúdo agindo como software em vez de fazer seu papel enquanto literatura.

Com "coisas" sensíveis a estímulos podemos, com o passar do tempo, modificar seu significado original e evoluir com sua significância a medida em que interagimos e integramos eles às nossas vidas, pois, em algum momento, essas coisas poderão aprender com nossa experiência e a partir daí, meu caro, o significado das coisas em si mudará.

A web veio para servir a humanidade, diz Tim Berner-Lee, o pai da internet. Ela não nasceu para poucos, para ser espionada e muito menos controlada. Estas "coisas", também chamadas de social machines, vieram para ficar e não devem ser estudadas de forma displicente. Definitivamente, este não será o papel delas em nossa história.

A grande revolução da internet das coisas irá se dar quando deixarmos de enxergá-la através de um microscópio para enxergá-la através de um telescópio, diz John du Pre Gauntt. Hoje, vemos apenas redes agregando valor a um produto. Isso acontece quando ligamos um carro e ele se comunica com o fabricante para fazer um diagnóstico ou um porta guarda-chuva que diz se vai chover. Uma teoria "produtocêntrica", na qual todo universo gira em torno do produto, assim como aconteceu com o Google Glass.

A forma mais inteligente parece indicar para uma teoria "redecêntrica", na qual os produtos agregam valor às redes e a ação encontra-se quando os objetos interagem com outros objetos, locais e pessoas, e eles deixam de estar apenas conectados para serem a conexão e se tornarem sociais em si. Com uma fonte de dados compartilhada e design de produtos que envolvam diferentes públicos, podemos ir muito longe, já que existem milhões de produtos prontos para ser fonte para as pessoas. Porque não ter um guarda-chuva que acende o cabo nos indicando para pegá-lo pois pode chover?

A monetização em torno do conteúdo foi pensada para desktops e telas, mas, ao que tudo indica, a comunicação entre as parte se dará inicialmente através de alertas e não conexões a endereços. A rede social já é um prenúncio deste caminho. Não nos conectamos mais a um endereço. Ela simplesmente já está lá quando ligamos nosso celular ou nosso computador. Tudo hoje está tageado, faz parte de um perfil e tem preferências.

De acordo com Peter Semmelhack em seu livro Social Machines, as redes sociais em um futuro próximo não serão constituídas apenas de seus amigos e familiares, mas também de geladeiras, carros e quem sabe mais o futuro nos permita. As máquinas sociais serão os catalisadores para novas formas de networking.

Isso já tem acontecido. Alguns produtos têm saído de fábrica com uma identificação física, que pode ser um código de barra, QRcode, NFC, RFID, BLE, dentre outros. Uma vez com identificação, o canal de comunicação passa a ser o objeto em si e a rede é estendida para além de um site ou uma rede social, e este ativo com relação a ambos. Uma conexão tão intrigante que une produto, usuário, mídia, canal de distribuição em um só conjunto. Uma experiência tão rica, com tanto valor em si mesma, que a estratégia de desenvolvimento se confunde com a própria estratégia de comunicação e vendas.

Uma mudança radical na construção de carreiras, para uma nova geração de profissionais híbridos e um posterior refinamento natural das funções já é realidade. Óbvio que isso não é nenhuma novidade, temos uma enchurrada de novas proporções versus a uma extinção em massa de outras. É inevitável. Teremos que incorporar isso as nossas vidas e principalmente para esta nova geração de comunicadores, profissionais infinitamente mais detalhistas. Dificícl ser generalista e detalhista ao mesmo tempo, mas ao que tudo indica, é assim que as coisas serão.

Que comportamento humano desbloqueará produtos ou serviços conectados? Que informações uma pessoa precisa agora e de que forma interagir significativamente com um produto ou serviço conectado? Como vamos preparar as pessoas para viver em parceria com Big Data e Inteligência Artificial? Estes também serão problemas que precisaremos resolver para poder contar histórias sem paracer que estamos falando "tecniqunês" da informática e da engenharia. Sei que é difícil, mas mo que você decida abandonar tudo e ir para o campo, dificilmente irá se safar, afinal a revolução possui tentáculos por todos os lados.

A internet das coisas nos permite, em outro aspecto, fazer algo inimaginável até pouco tempo. Não dependemos mais da indústria para suprir a nossa necessidade de produtos. Podemos, por conta e risco, desenvolver nós mesmos segundo nossas necessidades. Ou seja, por que abdicar de um sistema de irrigação de sua horta em sua comunidade de permacultura, ou, quem sabe, usar as mesmas plataformas de prototipagem que brotam por aí como Arduínos e Raspberry Pis, para alimentar os animais do seu sítio? Parece que núcleos autônomos têm mais condições de florescer e, por esse caminho, identificamos uma nova história de pessoas voltando para o campo a fim de construir uma vida mais ligada à terra e aos meios de produção de alimentos orgânicos.

Em primeiro de março de 2012, o Monkey House em Nova York fechou após 111 anos . Em vez de colocar todos os macacos em um só lugar, o Jardim Zoológico de Bronx determinou que os macacos deveriam viver de acordo com seu habitat natural. Seria mais humano para eles e mais educativo para nós. Agora, quando você vai para o Jardim Zoológico de Bronx, os macacos são distribuídos por vários habitats em vez de serem colocados em um edifício.

Nós somos primatas também. Nós crescemos e convivemos com histórias para a coesão social. Nós compartilhamos histórias pelo simples prazer de estarmos juntos e investimos em objetos com histórias para torná-los distintos e valiosos. Estes produtos já estão por aí. Temos portas que abrem ao nos aproximarmos delas. Cancelas que levantam ao aproximarmos nossos carros, falta muito pouco para que possamos ler notícias que tem a ver com a gente no espelho do banheiro enquanto escovamos nossos dentes ou ter escovas de dente que conversam entre si e nos ensinam melhores formas de escovar pois aprenderam com a experiência de outras escovas.

Qual é o ponto de vista das máquinas sobre as coisas e como elas podem nos ajudar? É isso que iremos viver em breve e, quem sabe num futuro muito próximo, você, leitor, esteja lendo uma história escrita por um produto e não a opinião de um humano sobre ele. Falta pouco para lermos um best-seller não humano.

BIBLIOGRAFIA

TED: Gaming can make a better world - Jane McGonigal

https://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world?language=en#t-72889

http://filmmakermagazine.com/37083-listen-as-your-story-talks-to-the-internet/#.Vh5sArRViko

http://postscapes.com/storytelling-and-the-internet-of-things

https://medium.com/iot-storytelling/storytelling-for-the-internet-of-things-7bc3d9e083dc

Mobile Report Nielsen IBOPE Julho/15

http://www.oreilly.com/pub/e/3442

Object Narratives: Alexis Lloyd (The Future of StoryTelling)

https://www.youtube.com/watch?v=2zGghmoYvdg

http://www.geoffreylong.com/wordpress/archives/1981



A BASE PARA UM ROTEIRO TRANSMÍDIA PERFEITO

July 10, 2015

Inovar consiste em saber entender e interpretar as mesmas histórias em papéis diferentes e contextos distintos. Entendendo isso, somos capazes de construir relevância e sentido aos nossos conteúdos.


Antes de recriminar este típico título de livro de auto-ajuda com pitadas de blog de tendências, dê uma chance ao texto e continue. A linha entre e o brega e o inovador sempre será tênue. Para quebrar a barreira da mesmice há de se ter uma boa dose de ousadia, o que nos faz correr o risco de parecer ridículos aos olhos dos outros. E apesar de muito do que você vai ler aqui já ter feito parte da sua vida em algum momento, talvez você nunca tenha visto desta maneira. Aproveite este universo de possibilidades a caminho da inovação sem preconceitos.

Conhecer histórias é conhecer pessoas. E ao conhecê-las, nos tornamos capazes de proporcionar experiências únicas. E em um mundo com tantos estímulos, só aquilo que fala diretamente com a gente é capaz de garantir nossa atenção. Saber individualizar o conteúdo é a chave para os novos roteiros. Saber com o que as pessoas se identificam de verdade, interpretar seus sinais, compreender suas histórias é, de uma vez só, ter a chave da razão e do coração ao mesmo tempo.

Todos no mundo se identificam com histórias diferentes em momentos distintos da vida. Não importa se é com a Peppa Pig, Gengis Khan ou Ghandi. Todas as histórias possuem elementos com os quais, dependendo do contexto e do momento em que nos encontramos, iremos nos identificar mais ou menos. Na verdade, mais do que identificação, buscamos de alguma forma ser os protagonistas destas histórias.

Saber o porque de nos identificarmos com a estrutura destas narrativas e com estes protagonistas é uma resposta que podemos encontrar dentro de uma ciência que atende pelo nome de narratologia. Suas teorias têm o objetivo de descrever o funcionamento da narrativa e demonstrar os seus mecanismos para identificar o que as diversas histórias possuem em comum, e como são capazes de recriar constantemente o universo em que vivemos.

A teoria da narrativa pode ser analisada de muitas formas: pela ordem cronológica, a sequência na qual os acontecimentos ocorrem, dentre outros, mas o foco deste texto é falar menos a respeito das estruturas e um pouco mais a respeito do conteúdo e sobre o que de fato essas histórias buscam contar.

Por mais que a linguagem consiga expressar o que deve ser dito, sempre vai faltar algo. Toda a forma de expressão possui perifericamente alguma forma de simbolismo, que pode ou não ser contado se utilizando da linguagem. Comunicar é algo complexo e existem muitas maneiras de se fazer, mas principalmente, através das figuras de linguagem que conseguimos abrir estes grandes portais, tendo no decorrer dos tempos artistas, filósofos e religiosos como porteiros.

As narrativas metafóricas sugerem a coexistência de contextos imaginários. Interpretá-la ao pé da letra, e não com a liberdade poética que exige, é um erro. Todas as imagens que construímos metaforicamente a respeito da natureza, por exemplo, tem a ver com algo que existe dentro de nós. Com os nossos mitos e histórias. Como disse Novalis, “o pouso da alma é aquele lugar onde o mundo interior e o exterior se encontram”.

Antes de entrar neste ponto, é importante dizer que se fala nisso há muito tempo. Prova são os exemplos, a seguir, de diferentes pensadores, que discorrem sobre o tema. O russo Vladimir Propp, em "Morfologia do Conto Popular”, reduziu todas as narrativas a trinta e um elementos fixos. Além dele, Lévi-Strauss, a partir de uma análise estruturalista, disse em seu livro "Antropologia Estrutural" que o que importa são os mitos, variações que foram amplamente difundidas através de elementos constantes na estrutura, que pretendo explorar com este texto.

Tzvetan Todorov, por sua vez, dizia que a narrativa se constitui na tensão de duas forças. Uma é a mudança e a outra a ordem e se constituem na tensão das duas. Carl Jung também entendeu que uma estrutura mítica é essencial tanto por uma questão do consciente quanto do inconsciente, em que o herói representa o protagonista e os arquétipos os coadjuvantes da história, pelos quais o protagonista deve passar para concluir sua existência com êxito.

A maior sumidade em mitos é sem dúvida Joseph Campbell. Em seus livros "As máscaras de Deus" e "O Herói de mil faces" aproximou elementos até então desconexos. Reconhecido como um grande generalista, acabou por influenciar roteiristas, diretores e produtores ao redor do mundo, dentre eles George Lucas, que arrastou gerações através da célebre frase mítica “Que a Força esteja com você”; Os irmãos Wachowsky, em Matrix, e até a própria Disney, que em um memorando entitulado "A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas" influenciou diferentes filmes na década de 90, que passavam por um check-list antes de serem produzidos.

Mitos sempre transitaram entre todas as gerações e há evidências da existência de mitos idênticos em povos e culturas distintas, que nunca tiveram suas tradições cruzadas em momento algum da história. O mais difundido no ocidente é o de Jesus Cristo, que nasceu de uma virgem no dia 25 de dezembro e três reis magos anunciaram seu nascimento. No decorrer de sua vida, se juntou a doze pessoas, que se tornaram seus apóstolos, executou milagres, foi perseguido, morto, crucificado e, três dias depois, ressuscitou.

Até aí nada novo, não fosse o fato de haver mais de cinquenta histórias idênticas a essa antes do ano um, incluindo personagens considerados pagãos, mas de grande envergadura histórica, como Horus, Atis, Krishna, Dionisio e Mithra, para citar alguns. Colocando as crenças de lado, a pergunta que devemos nos fazer é por que a mesma história foi e continua sendo contada em diferentes culturas, até os dias de hoje? Qual o mito e o que podemos aprender com elas?

É importante saber que, se vamos falar do princípio da história da civilização, é necessário dividi-la entre duas culturas básicas: a da caça e a da agricultura. Na agricultura, o ciclo de plantio sempre foi determinante. E os povos que tinham sua cultura baseada na agricultura eram muito atentos ao que acontecia no céu, percebendo que os padrões da natureza de tempos em tempos se repetiam diante de seus olhos.

Isso pode soar um tanto romântico em um mundo com computadores. Mas há dez mil anos não era bem assim. Foi observando o comportamento da natureza que nossos antepassados perceberam, por exemplo, que o Sol, no decorrer de 365 dias, diminui seu arco visível, atingindo seu menor trajeto no dia 22 de dezembro. Este é o dia da morte do Sol, o ápice do inverno, quando toda a colheita está comprometida. Ali, permanece por três dias inteiros, voltando a se distanciar do horizonte no dia 25, o grande dia da renovação, sinalizando que os dias serão maiores e o ciclo da agricultura volta a acontecer.

Como se não bastasse, Sirius, a estrela mais brilhante, fica alinhada com as Três Marias. Fora do Brasil, são as três estrelas do cinturão de Órion e no dia 25 de dezembro pela manhã, as três estrelas apontam exatamente para o Sol nascente, alinhado no centro da constelação do Cruzeiro do Sul.

Na cultura da caça, o que ficou claro é que tudo que é vivo depende de outra vida, onde sobreviver era tão somente sinônimo de caçar. Em meio a um clima hostil, homens de Neandertal e animais selvagens duelavam diariamente e que influencio Charles Darwin no século XIX que dizia: "Os mais aptos têm mais chances de sobreviver" e nessa cultura os mitos eram outros.

Os mitos nos contam sobre ideias elementares, as quais Jung denominou arquétipos. Estes aparecem sob diferentes roupagens durante a história da humanidade. Através deles, buscamos experimentar o mundo e aquilo que transcende. Buscamos experimentar o divino. Quando fazemos isso sozinhos, sonhamos, mas quando sonhamos em conjunto, construímos um mito. É neste momento em que consolidamos a questão do inconsciente coletivo de que Jung tanto falava.

Tentar compreender e identificar traços de nossa personalidade é uma maneira de destrinchar nossos mitos. Desde os gregos tentamos fazer isso. Hipócrates, por exemplo, um dos pais da medicina, classificou os seres humanos em quatro temperamentos-base: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático. Hoje, com os modelos atuais, conseguimos cobrir grande parte dos traços de personalidade e, com isso, prever com um bom grau de veracidade como as pessoas irão se comportar e com o advento da internet, a manifestação dessas personalidades protagonistas ficou mais fácil de se monitorar.

Assim como o homem primitivo deixava marcas por onde passava, deixamos nossas pegadas virtuais, uma espécie de registro da nossa história na internet, através do qual é possível decifrar perguntas existenciais a respeito de nós mesmos. Um dos melhores projetos a respeito é o http://applymagicsauce.com/, da Universidade de Cambridge. Com um simples login usando o Facebook Connect, o aplicativo é capaz de cruzar informações e revelar dados a respeito da vida particular que deixaria mães de cabelos em pé. Outra iniciativa bem é o http://www.16personalities.com, com versão em português, através do qual é possível descobrir um pouco mais a respeito de sua personalidade

Grande parte das pessoas desejam compartilhar suas histórias, pois a ssim se validam em grupo e as marcas nunca tiveram um cenário tão rico para identificar a história com a qual seu público se identifica. A marca o representa e fala o que a pessoa pensa. Estas tendências têm relação com as histórias do seu target. E estas histórias, essencialmente, com um mito, afinal, consumidores compartilham histórias. Nunca marcas

A criação do nosso universo e a história da humanidade, da nossa evolução ao longo dos milênios, pode ser contada através de diferentes mitos. Do Big Bang à Bíblia Sagrada. Do Oriente ao Ocidente. As histórias colocam novas roupagens, mas seu sentido moral é sempre o mesmo. Inovar consiste em saber entender e interpretar as mesmas histórias em papéis diferentes e contextos distintos. Entendendo isso, somos capazes de construir relevância e sentido aos nossos conteúdos. Mais do que isso, neste caminho, atribuímos sentido às nossas vidas.

A inovação está muito mais presente enquanto compreender as semelhanças do que focar nas diferenças. As semelhanças são amplas e, através delas, promovemos a mútua compreensão entre os seres. Como dizem os Vedas, as escrituras sagradas mais antigas da história: ”A verdade é uma só, mas os sábios falam dela sob muitos nomes".

Escute aqui os áudios:

BIBLIOGRAFIA

CAMPBELL, Joseph. The Hero with a thousand faces. Mythos, 1973.

CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito. Pallas Athena, 1990.

PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. Forense Universitária, 1984.

CESARE, Segre, Introdução à Análise do Texto Literário, 1999

BERMAN, Antoine. L'épreuve de l'étranger. Culture et traduction dans l'Allemagne romantique: Herder, Goethe, Schlegel,

Novalis, Humboldt, Schleiermacher, Hölderlin. París: Gallimard, 1984. ISBN 978-2070700769.

Bhadantacariya Buddhaghosa, Bhikkhu Nanamoli (trans.), O trajeto do purification, Publicar De Seattle Pariyatti

(Sociedade Buddhist Da Publicação), 1999. ISBN 1928706010.

hhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Deuses_ol%C3%ADmpicos

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ap%C3%B3stolo#Os_doze

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&link_id=69:narratologia&task=viewlink2

http://pt.wikipedia.org/wiki/Narratologia

http://www.historias.interativas.nom.br/lilith/aula/apostilas/narratologia.pdf

Zeitgeist, o filme



CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO

September 9, 2014

Das poucas certezas que temos, é de que a publicidade de amanhã certamente não será a de hoje. Não há dúvidas de que o mercado busca se aperfeiçoar, mas infelizmente o faz num ritmo inferior a outros setores.


Antes de mais nada precisamos deixar claro uma coisa: a criatividade está para a subjetividade assim como a inovação está para a objetividade. No geral, a criatividade está nos olhos de que vê, já a inovação, não necessariamente. Fazendo um paralelo com a lógica, que é estudada por duas ciências distintas: a matemática e a filosofia, podemos perceber que enquanto uma se prova perfeitamente dentro de um universo matemático, é impossível alçar novos caminhos sem recorrer a vertente filosófica. O mesmo acontece na contramão pois, sem a estrutura da primeira a segunda jamais se construiria. É quase paradoxal. Apesar de serem complementares em sua essência, são distintas.

Isso se dá entre os dois tópicos deste texto. Criatividade, por definição, é algo complexo. Há quem defenda ser a memória RAM da evolução biológica, Dostoivesky dizia que a necessidade de criar nem sempre coincide com as possibilidades de criação. Já Antônio Damásio diz que criar consiste não em fazer combinações inúteis, mas em efetuar aquelas que são úteis.

Uma coisa é fato. Criar tem a ver com escolher, pois sem a escolha ela nunca sairá da sua cabeça.

Inovação por sua vez está mais ligada à ideia de aperfeiçoamento, em ganhar eficiência, melhorar algo. É um conceito amplamente trabalhado e sem sombra de dúvidas orientada para resultados mais práticos e sensíveis ao senso comum. Inovar não é inventar. Saber disso nos afasta da angústia de ter que criar algo original e pioneiro dentro de nossos estudos e nossas profissões. Como diria Lavoisier: “Tudo se transforma. Nada se cria”, ou seja, tudo de alguma forma sempre será referencial.

Ser o primeiro não é necessariamente uma vantagem, a não ser que você esteja correndo os cem metros rasos. Tiro para cima, explosão e acabou. Temos aí Benjamin Franklin, Google, Facebook e um milhão de outros exemplos que foram frutos do aperfeiçoamento, principalmente por ter concorrentes lado a lado. O mercado está mais para uma maratona e isso só faz sentido quando seu intuito é dizer que pensou primeiro e isso não funciona para o mercado em geral. Só funciona na publicidade.



Criatividade e inovação na publicidade

O papel da agência sempre estará ligado a criatividade e inovação, mas com o compromisso claro de dar resultados para seus clientes e para si mesma. Por isso, seu modelo de negócios. direcionado para trabalhar com as mídias estabelecidas. Afinal, os valores para utilização destes espaços são bem altos e por conta de uma lei, os veículos são obrigados a repassar vinte porcento deste valor, pagos pelo anunciante para a agência.

Embora haja muita gente bem intencionada e fazendo bastante coisa para mudar, existe um grande espaço inexplorado. Tudo ainda é um grande concurso cultural e quando de fato há algo fora da caixa, a mensagem que querem passar para o público está mais para: - Olha só como o mundo seria melhor se esta marca fizesse isso.

Não é legal? Tomara que a empresa para qual demos essa ideia também acredite nisso. Digo isso, pois ser inovador é caro e para uma agência ser reconhecida como criativa e inovadora precisa de apenas um prêmio pela sua capacidade de dizer que pensou primeiro, não é por resultados e nem pela sua realização.

Como disse Bill Murray, nossos celulares têm dois milhões de vezes mais capacidade que o computadorda Apolo 11 e enquanto este levou o homem à lua, nós arremessamos passarinhos em casas de porcos. É mais ou menos assim que funciona. Lá dentro existem pessoas brilhantes, com ideias mirabolantes, com capacidade de mudar o mundo, mas onde o maior desafio do seu dia é escrever slogans de sabão em pó.

O público quer participar, mas os criativos não sabem ainda o que é poss.vel. Em geral, a publicidade se auto referencia e a base para um anúncio de amanhã, é o anúncio que foi feito ontem. As ideias começam surgir a partir de mecanismos de busca do próprio mercado publicitário, depois boards do Pinterest onde seus alimentadores são designers e publicitários e quando isso não dá certo, daí sim começa-se a paleontologia digital e a escavação de fósseis de livros oldschool.

Ter uma ideia boa requer tempo para pesquisa, requer tempo para se atualizar, para aprender tudo àquilo que não tem a ver com slogan de sabão em pó. A criação é sempre referenciada e não precisa estar a par do que está sendo feito o tempo todo.

Isso é angustiante demais e útil de menos, utilidade que de fato nunca são premiadas nestes festivais ao redor do mundo.

Grandes empresas possuem departamentos especializados no desenvolvimento de produtos, onde estudam a viabilidade, prototipam, escalam a produção e elaboram a melhor forma de transformar estes produtos em algo viável. Estas ideias tem se tornado novos modelos de negócio e isso ao invés de se tornar uma grande oportunidade para as empresas, por fim se transformam em um grande problema, resumindo, são problemas e não soluções que são apresentadas.

Das poucas certezas que temos, é de que a publicidade de amanhã certamente n.o será a de hoje. Não há dúvidas de que o mercado busca se aperfeiçoar, mas infelizmente o faz num ritmo inferior a outros setores. O futuro da criatividade da publicidade não está no modelo de agências que conhecemos hoje, principalmente no Brasil.



Transmidia e as janelas de imersão

Outra coisa importante de deixar claro é o conceito de transmídia. Henry Jenkins diz que se trata de uma narrativa que percorre diversas mídias. Visto pela perspectiva dos publicitários, isso não passa de uma campanha integrada, 360, onde o mesmo discurso é comunicado de forma igual em todos os meios.

Porém, o ponto central de diferenciação é o fato de que em cada meio a história é contada de uma forma diferente e que se possível, seja interativa, na qual o público possa de alguma forma participar.

Na publicidade, ainda é muito comum ouvir gente dizendo se uma ideia é “online”ou “offline”. Eu entendo como sendo “on” aquilo que é transm.dia / interativo e aquilo é “off” como sendo mídia / não interativo. Mas qual é mais criativa? De verdade, não existe melhor, são diferentes e devem ser exploradas de acordo com as necessidades e possibilidades do produto em questão. Sinceramente, como afirmar que Laranja Mec.nica do Kubrick é melhor que o filme Labirinto, dos estudantes da UNESP? O que é inovador, muitas vezes não é necessariamente melhor.

Esta história me lembra do famoso caso de que quando apareceu a fotografia, grande parte das pessoas anunciaram o fim da pintura. Com o aparecimento do cinema, o mesmo aconteceu com a fotografia. Hoje vemos o mesmo em relação às estratégias transmidiáticas e a ind.stria gráfica. Ninguém vai parar de imprimir nem de fazer conteúdos que não sejam interativos. O que fica claro é a reacomodação dos setores. Esta visão apocalíptica sobre a extinção serve apenas como publicidade.

Quando pensamos em transmídia, o ponto está muito mais ligado ao como fazer do que necessariamente o que fazer. O roteiro colaborativo, com participação da audiência é algo bem antigo. Me desculpem os religiosos, mas na minha opinião, o exemplo mais bem criativo, inovado e bem sucedido disso é a Bíblia. O livro dos livros é sem dúvida um dos melhores exemplos para falar sobre engajamento.

Ele é constru.do a partir de ótimas histórias que de alguma forma se conectam com o inconsciente da gente. E nenhuma ideia funciona sem uma boa história, sem um grande mito. É aí que as pessoas se reconhecem, onde faz sentido. Inovar é melhorar, aperfeiçoar, superar e quando superaçaoo é o tema, nenhum mito explica isso melhor que Daniel San. Estamos falando do mito do herói, aquele que desde a Grécia, tem um lugarzinho de destaque no imaginário coletivo. É aí que a história da inovação se desdobra. Um caminho que remete ao mar de espinhos antes das rosas e onde faz sentido sofrer, passar por um mar de pizzas, chefes assírios e ônibus lotados para se chegar ao objetivo.



O próximo capítulo de criatividade e inovação

A íltima revolução é a dos costumes, sinalizou George Orwell em sua obra. A audiência já entendeu que pode ser ouvida, engajamento é uma palavra mais utilizada na contemporaneidade do que amor e roteiristas ao redor do mundo já começaram a rabiscar de alguma forma narrativas que permitam este tipo estruturação. O que de melhor existe em relação a narrativas interativas são sem dúvidas os jogos de vídeo game. Só neles você tem uma experiência completa de interatividade, onde de fato influencia o protagonista, ao ponto do personagem ser você. Roteiristas de games são o que há de melhor no quesito interatividade.

Agências especulam sobre o futuro e contratam parceiros para materializar o que precisam contar, portanto, se o interesse for inovação e criatividade, o mercado de start-ups é sem dúvida o mais fértil. Cresce a cada dia e estão pensando coisas úteis e trabalhando para fazer acontecer. Agências vão fazer um filme sobre como seria bom se isso existisse apenas.

Se você tiver uma ideia boa que seja realmente útil, estruture-a e busque na internet por investidor anjo. Me parece fazer sentido que em um futuro próximo, agências se tornarem empresas que ajudam na construção de modelos de negócios, uma empresa de consultores em inovação, criatividade, sociologia e claro, comunicação. Elas definiriam as melhores mídias, os fundos de capital anjo e que estes por sua vez financiariam a operação tendo na compra desta empresa. É só dizer que elas terão vinte por cento da start-up que me parece possível acontecer.

Projetos criativos e inovadores são como um filho. Se não houver dedicação ele morre; você não pode desistir. Apesar de uma ideia ser reconhecida pela criatividade, ela só vai realmente dar certo por causa da teimosia. Uma grande ideia, ao contrário do que todos pensam, tem tudo para não dar certo e lembre-se de Scott-Heron quando decidir buscar informações sobre estas mudanças: “a revolução não será televisionada”.



ATRIZ, MODELO E MANEQUIM

August 12, 2013

Eu admiro quem é atriz, modelo e manequim.

Digo isso, pois na minha profissão, admiro quem pensa “on”, “off” e todas as outras variações que um player permite.

Desde que comecei a conhecer pessoas, as mais incríveis que eu conheci sempre conjugaram o verbo “to be”, sempre como “estar” e nunca como “ser”.

Hoje, quando me perguntam o que sou, digo que estou diretor de criação, de arte, redator, profissional transmídia, fotógrafo, artista multimídia e um monte de outras coisas que eu possa “estar sendo” naquele determinado momento.

Esta auto-definição não foi muito bacana comigo no começo da minha carreira. Eu até entendo que a academia valorize muito mais os especialistas do que os generalistas, embora isso nunca ter feito muito sentido na minha profissão. Quando era pequeno e perguntava para o meu pai o que era um publicitário, ele me dizia se tratar de um cara que sabia de tudo um pouco. Foi justamente pelo caminho que e fui e quase acabei voltando.

Publicitários são generalistas em sua essência, nunca se resumiram a isso ou aquilo. São bons em diagnósticos e são naturalmente interessados por diversos assuntos.

É claro, que entre o monólogo e o diálogo, sempre ficarei com o segundo, ou seja, quando as pessoas participam é sempre mais interessante e enriquecedor, o que não impede que o monólogo também não seja interessante. Adoro palestras, mas prefiro a parte final das perguntas. Interações constroem relações e o ser humano é um bichinho social.

Por isso, prestar mais atenção ao modo no qual trabalhamos me parece fazer muito mais sentido do que nos auto intitularmos pelo que fazemos. Ver as coisas de forma ingênua e dialogar sobre esta visão se prova cada vez melhor do que viver com a aba de comentários desabilitada.

Acredito em aperfeiçoamento, não em Eurekas. Acredito em gente, não em gênios. Vou admirar pra sempre quem é atriz, modelo e manequim.

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